segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Quanta dor...

Querido,

Preciso te contar, meu tão querido, o que você me fez. Quero crer que você fez tudo isso sem ver, sem perceber, e sem a menor intenção. Na sua cabeça, você estava certo e foi isso que importou por muito tempo. Mas querido, olha como você me fez. Queria que eu fosse tão boa quanto você, uma perfeita cópia sua. E você jamais precisou de elogios ou de aprovação, e não importa se alguém tente achar algum defeito seu: ele não existe. Já eu... Bom, eu sou desgrenhada como uma bruxinha, a mais gorda da sala, o meu perfume é fedido e é inclusive por isso que eu fui achada na lata de lixo. Por alguns anos eu não tinha coragem de me sentar ao seu lado. Eu dirijo mal como você, sou misantropa como você, traiçoeira como você. Não me importo com as vontades dos outros, como você. E por isso, devo ser punida.

Mas o fato, meu querido, é que meu pior medo sempre foi decepcionar você. E eu vivia fazendo isso, o tempo todo. Quando eu não acertava uma cesta do garrafão, quando eu não aprendi matemática, quando eu não aprendi biologia. Mais tarde, não importou que eu tivesse aprendido bem as duas matérias, além de física e química. Muito menos que eu fosse craque em história, geografia, inglês, português e literatura. Você sempre soube mais.

Perdoa, querido, mas a culpa é quase toda sua se eu nunca fui um monstro feio e gordo e sempre pensei isso de mim. Se algum dia eu me achei muito burra e incapaz (e olha, foram vários dias), a culpa é sua. Eu nunca fui boa o suficiente, nem para mim, nem para você. E enquanto eu não for um ser perfeito, eu não serei um ser completo, e aí você não pode permitir que eu me torne uma adulta.

O momento mais feliz da minha vida foi o meio sorriso e o abraço que eu ganhei de você quando fomos á uma loja de guitarras. Um ano depois, foi o pior momento da história do meu universo,você disse que se envergonhava de ter alguém como eu em casa.

O mais assustador é que você nunca está errado. Mas o seu problema é que você sempre age de maneira errada.

Por mais de duas décadas eu me orgulhei dos seus acertos e perdoei os seus erros, e tudo que te peço agora é que você faça o mesmo por mim. Por favor, me deixa ser.
Me deixa ser sua.



Um comentário:

  1. http://longtallclara.blogspot.com.br/2010/01/uma-carta.html

    ResponderExcluir