quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Pelo direito à dignidade de ser ao menos uma puta

Se ao menos me tratasse com a dignidade de uma puta
Eu receberia dinheiro em vez de lamentações inúteis
Eu teria lido o que escreveu e até sorrido com ternura
Teria achado bonitinho

Se eu merecesse ser uma puta em sua vida
Honra que já estaria de bom tamanho para os meus “quereres”
Ah, aí eu me faria!
Me revelaria a grande dama da noite que jamais fui por inteira
Isso se eu olhasse quando gritasse “puta!”

Ah...Eu devia ter olhado, ter atendido seu chamado!
Devia ter usado aquele vestidinho de veludo vinho
Calçado aquele salto agulha
Devia ter retocado meu batom vermelho
E ter posto aquelas argolas esquecidas na minha gaveta

Quisera eu ser puta, ser garota de programa, ser piranha
A vantagem de poder rebolar pelas esquinas da vida
Ou tropeçar e cair nas poças da sarjeta
Vender meu único bem físico
Em troca de algum aluguel de mixaria numa daquelas ruazinhas do centro

Podia eu ser uma piranha da Lapa
Fiel ao meu trabalho, à minha “vocação”
De tão centrada, quase registrada
Daquelas que cobram 20 por uma gozada
E que só passam dos 50 para os gringos

Vadia, galinha, vagabunda, uma mulher da vida
Ou do julgasse ser uma vida
Sem beijos e sem medos
Sem tudo
E com nada

Uma puta digna
Trepando em carros, espeluncas e ruas levemente movimentadas
Com homens casados, mulheres, tarados, operários e psicopatas...
Sorrindo da safadeza alheia que só refletisse a dos meus olhos
Levando tapinhas na bunda e sendo chamada de cachorra
Recebendo puxões de cabelo e tapas na cara

Céus, que sonho lindo poder ser tratada com tanto esmero
Ser respeitada com toda a indiferença que merecesse
Não ser mencionada
Ter meu nome esquecido
Nome falso e perdido
Nunca passar de uma foda
E uma que foda que não fosse nem tão foda


Pra poder chegar em meu quartinho alugado
Como toda boa puta
Já pela metade da manhã
E poder tomar um banho depois de uma fila para o banheiro
Vestir uma roupa com cheiro de mofo e beijar meu travesseiro
Gasto
Mas fofo o suficiente para abafar minha sessão de choro diária
Soluçando para os ácaros até que a exaustão me tomasse pra si

Cansaço de ser tão do mundo, de tantos mundos
Que me fizesse esperar a noite e a madrugada inteira pra me roubar pra mim
Me roubar de mim
E me entregar a Morfeu
Porque se sou inteiramente minha eu não consigo realmente me pertencer
Então me protejo dentro de meus sonhos
Lá, onde as coisas possíveis realmente são possíveis
E onde eu pertenço a um só homem

Que me ouve pedir pra ser tratada como puta
Que me vê cair aos seus pés exigindo punições
Numa tentativa desesperada de obter o mínimo de compaixão inversa
E recebe em troca amor
O seu amor
Sendo tocada como a última mulher do planeta
E sendo amada como a mulher de sua vida.

Um comentário:

  1. CHICA ... Meu! tu é foda! queria postar um cometário digno aqui, mas enfim, fica impossivel...as palavras nem saem!
    FODA!

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