domingo, 20 de fevereiro de 2011

Lavando o coração III

3- SUPRESA?

Pois é, eu já devia ter esperado isso: Não consigo ir dormir sem terminar de escrever o que comecei! Por isso que prefiro nem começar, às vezes bate uma baita preguiça... Porque se eu começo, danou-se, eu não paro, não dá pra fugir, deixar para a hora do almoço ou o final de semana. Escrever é um eterno agora ou nunca, impossível fugir desse moinho.

Eu já cheguei a mencionar este tema várias vezes pra você, principalmente depois que lhe dei os presentinhos (o de usar, o de escrever e o de comer, este último você até esqueceu). Você pode me acusar de dar presentes incomuns, mas nunca de não ser criativa! E o barato de presentear alguém (que trabalha também) é esse mesmo, é dar alguma coisa completamente inesperada, ou algo que a pessoa deseja e precisa, mas não compra por algum motivo. E eu faço isso, faço e você sabe, só que prefere dizer que não gostou, deixar jogado em algum canto depois de tirar da embalagem ou até esquecer no carro no caminho para o aeroporto. Você não faz idéia de como isso me magoa, não faz mesmo. Não passa pela sua cabeça que quando alguém perde meia hora fazendo uma embalagem criativa e exclusiva para um presente é porque esta pessoa quer ter agradar, quer merecer um sorriso sincero de reconhecimento por seu esforço? Nada te agrada o suficiente, porque minhas idéias são originais demais pra você. Preferia que eu te desse uma roupa, um perfume, sei lá, coisas desse tipo, que as namoradinhas sempre dão. Isso me deixa entediada, eu não sei ser previsível sendo eu ao mesmo tempo.

Você queria me dar um presente também. Primeiro, porque era meu aniversário, depois porque eu lhe presenteei “por nada”. Não gosto de presentes por obrigação, essa coisa de ter que presentear apenas porque existe uma data comemorativa que foi inventada está totalmente fora do que julgo ser necessário ou importante. Na dúvida, não trouxe nada, simplesmente porque eu não pedi. E enquanto esteve aqui, quis me dar um presente, mas sua idéia de presente significa me acompanhar enquanto eu rodo atrás de algo que quero comprar e dizer “eu pago” na hora que eu for tirar a carteira da bolsa. E ainda tem a cara de pau de dizer que quer me dar de presente! Nããããããão, isso não é dar presente, isso é uma forma de sustentar, entende? De bancar! Eu não permiti que pagasse os presentes que me dei, porque eles foram planejados por mim, eu os desejei, então devo pagar por eles (e posso pagar por eles, pude, inclusive). Quase duas semanas se passaram e seu discurso de “queria te dar um presente” foi ficando chato, porque eu sempre te pedia algo original, uma surpresa, mas você ficava em casa dormindo, lendo, jogando no PC, curtindo as férias enquanto eu trabalhava, enquanto eu trabalhava ansiosa por uma surpresa, qualquer uma, até mesmo uma carta, uma flor roubada de algum jardim, mas nada chegou, absolutamente NADA. E o pior de tudo foi quando ainda pediu, após eu comprar aquela blusa com a palavra “Chica” na estampa (que você encontrou na loja) que eu dissesse pra minha mãe que foi um presente seu. Pra que isso? Pra que se amostrar como se tivesse me dado um presente que na verdade eu paguei? Se você não tivesse grana pra pagar, se tivesse sem condições, até seria um caso a se pensar, mas não. E mesmo se não tivesse grana, afinal, você não é obrigado a me dar nada. Olha, me desculpe, mas achei aquela atitude péssima, horrível mesmo... Não foi nada honrosa, foi indigna!

Apesar de todos os defeitos que possui, eu fui criada por um pai que passava noites planejando surpresas para o caça ao tesouro na Páscoa, para a passagem do Papai Noel no Natal, para o dia das mães... Um pai que levava eu e minha mãe pra jantarmos fora no Dia dos Namorados (quando eu era nova demais para ter o meu próprio), um pai que ia até o fim do mundo onde a filha estava numa viagem escolar e espalhava cartazes por todo o hotel para que quando ela acordasse, notasse que seus pais não esqueceram de seu aniversário, um pai que levava presentes para os cachorros quando estes faziam aniversário, enfim, eu fui criada com toda a liberdade para imaginar, para me preparar para emoções fortes, porque as surpresas sempre fizeram parte da minha vida. Mas eu fico pensando que daqui a alguns anos eu sairei de casa e que se me “juntar” a alguém e esse alguém tiver uma criatividade adormecida, isso simplesmente vai destruir toda uma tradição de encantos que sempre tive ao meu redor. E eu não quero isso, porque eu herdei essa vontade de criar, de arrancar sorrisos de surpresa, eu realmente gosto disso, mas não encontro essa vontade em você e pior, eu não encontro em você nem a vontade de surpreender, nem a vontade de ser surpreendido. Não me imagino num mundo onde a imaginação é desvalorizada.

Depois de muito pedir, acabei dando uma resposta a sua pergunta e disse que queria um anel de compromisso. Pois é, fui direta: “Quer me dar um presente? Quero um anel!” E o informei que o número para o anel seria o 13, porque quero anel no dedo que representa o noivado. Forcei a barra? Não, eu tava te testando, porque neste momento eu já sabia que casar estava fora de cogitação ainda que num futuro bem distante. Eu te testei e você caiu, porque até agora não vejo o anel nenhum por aqui. Você não o comprou por ter medo de representar mesmo um compromisso e/ou porque não sabe sequer escolher um anel sozinho, sem que eu vá escolher primeiro! Céus, vê como isso está ficando?!

Eu não estou escrevendo isso para terminar nada, pelo contrário, é uma tentativa louca de nos ajudar... Eu odeio comparações, mas tem vezes que é inevitável: O primeiro homem que amei de verdade se chama Felipe e o nosso namoro era perfeito, absolutamente, mas acabou por isso, porque era uma perfeição que de tão bem construída, não evoluía, não amadurecia, a nossa perfeição ele deixou ficar estagnada para que não a perdêssemos nunca, mas a perfeição é mutável! O perfeito hoje pode ser o oposto no mês seguinte, não dá pra seguir sempre o mesmo padrão, senão não há amor que resista, desgasta, vai morrendo, sendo levado aos poucos, ou seja, da pior forma que um amor pode acabar. Eu comecei a ver o início deste filme outra vez, mas eu já o assisti e não estou disposta a repetir a dose, eu já aprendi, não quero ver um amor fracassar outra vez por uma bobagem tão facilmente contornável quanto o tédio!

Me ajuda, eu preciso que me ajude, porque o amor existe e enquanto ele existir, tudo é possível e permitido, querido. Eu adoro ouvir ou ler o seu “eu te amo”, mas não vamos usar essa frase tão doce e mágica para preencher o silêncio cada vez maior que está crescendo entre nós. Pode parecer contraditório dizer isso, mas o amor exige muita racionalidade também, não é 100% instinto. Se você pensava que me deixar louca de amores por você era o fim da estrada, enganou-se, porque nunca acaba, a conquista não pode tirar férias ou dar um tempo, exige o esforço de ambas as partes sempre, pra sempre. E eu estou aqui tentando fazer a minha, está vendo? Estou batalhando por esse amor, mas eu preciso de você! Se quiser mesmo continuar dando atenção a isso que sente e ao que já sabe que sinto, você precisa nos ajudar também...

Eu te amo, mas isso não garante que vá ser eterno. Depende um pouco de mim, mas agora bem mais de você.



Chica Blanco.

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