terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O quartzo.

É muito difícil saber que existem outros amores
Tão intensos e tão poéticos quanto o meu
Incansavelmente belos em suas essências
Para preencher seu coração
Poderá você dizer que não
Que não há mulher no mundo tão fantástica quanto eu
Mas, há
E são tantas que até você perdeu a conta...

Porque de olhos castanhos este planeta azul já está cheio
E também possui toda a sua variedade de tons
Peles de várias texturas
Bocas de diversos formatos
Infinitos timbres de voz
Incalculáveis formas de se dar um beijo

Não, não sou nada além de uma migalha
Ou como diria Renato Russo, “sou uma gota d’agua, sou um grão de areia”
E a minha insignificância perante um mundo inteiro é brutal para a minha sensibilidade
Me rasga qualquer esperança que eu chegue a tentar manter
Machuca o desejo de pensar na possibilidade do que não é impossível

O tic-tac do relógio desta vida me deixa surda
E aí eu também fico muda
Porque se eu falo eu explodo, “Fernanda Vulcão” é um perigo tremendo
Me ausento no dormitório de meus pensamentos e repouso o raciocínio
Nunca gostei muito de pensar, principalmente quando estou amando
Mas, eu amo sempre...
Não fico sem amor, eu emendo e acrescento
Não subtraio amor da minha vida, multiplico por 100 e nem calculo a porcentagem
Cálculos são para os pensadores e eu quero ser só uma pedra

Uma pedra, por que não?
Imóvel, dura, muda, surda, insensível, imprestável, inválida
Será que as pedras têm alma? E as plantas?
Todos os animais possuem, disso eu sei...
E amor, todos os animais amam? Até as minhocas, hienas e gafanhotos?
Eu não sei, mas eu vou dizer que sim, porque é no que eu quero acreditar

Tudo o que eu acredito ser verdade é verdade
Porque eu escolho o roteiro da minha vida
Já que ela é um livro, dez livros, cem, uma biblioteca inteira
Eu mando em Mim porque paguei caro pelos direitos autorais em cartório
Mas, me dou de graça pra quem quiser me ver, beijar, tocar...
Como me dei pra você
Desembrulhada do papel de presente e até meio gasta
Mulher adquirida em brechó por defeito de fabricação
Já passei por infinitas trocas
Até que finalmente perceberam que não sirvo para ficar na vitrine

A peça usada e sem botão, com a etiqueta soltando e a costura torta
Enquanto você passeia pelas ruas e se delicia com vitrines de luxo
Como são atrativas essas novidades que surgem em nosso caminho
Como são saborosas as flores do passado que se mantém sempre frescas, saborosas
As mulheres possuem um encanto que me assusta e me rende
Eu não teria como não amá-las, pois sou fã do que todas elas são
Menos de mim
Porque a mulher que eu sou não se encaixa na perfeição onde todas as mulheres se encontram, endeusadas
Minha falta de egocentrismo me faz enxergar em cada mulher um novo universo
E em mim, apenas uma parte da parte que se partiu e que está prestes a partir desse mesmo universo

Por isso devo alertá-lo:
Caso não sejam falsas as suas palavras de ternura para os meus ouvidos puros
Que tome consciência de que não há em mim raridade alguma
Nenhum diferencial ou encanto incomum, excêntrico, exótico
Você pode ter rubis e esmeraldas
Mas eu sou apenas um quartzo.

Chica Blanco.

4 comentários:

  1. Chiquita,
    Você é foda.
    Acabo de ler uma das coisas mais coerentes dos últimos tempos: "Não fico sem amor, eu emendo e acrescento".
    É, Chica. Acabei de matar a saudade de você, como se estivesse bem aqui, me dizendo essas coisas no banquinho lá do corredor.
    Você é foda.
    Vamos ver se a Camila se anima agora. :)

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  2. "Porque de olhos castanhos este planeta azul já está cheio..."

    é, está mesmo. mas o brilho neles, será que é assim também? Acho que não.
    Apesar de achar que você tem olhos castanhos, como tantos, acredito que eles tenham um brilho diferente.

    belo texto!

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  3. uhuhu isso aqui é COISA DE MULHERZINHA! só tem mulher muito fantástica aqui !!! lindo texto!

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  4. Nossa, eu estou é com medo de postar.

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